domingo, 8 de fevereiro de 2009

Na janela vendo o tempo passar

Na janela vendo o tempo passar

Quadrado de Trancoso

Assim são as casinhas do Quadrado de Trancoso com janelas que se abrem de par em par para ver o tempo passar.Os cavalos mansos pastam o verde do chão de grama falhada.O ambiente é dinâmico,vagarosamente dinâmico.
É uma tarde quente, dia dois de fevereiro,dia santo e feriado,comemora-se São Brás,as crianças da cidade se reúnem no centro do Quadrado para a brincadeira do pau de sebo.
È um escorrega escorrega da criançada que se aventura a escalar o mastro liso.Os mais velhos dão pèzinho para apoiar os mais novos,arrumam um por cima do outro e num repente todos escorregam e caem.,só risadas e torcida que estimula com gritos de vai...vai..Na Casa das Festas o festeiro oferece comida e bebida para todo o povo se fartar,matam uma dezena de bois.
Os velhos fizeram a vigília da madrugada com samba de roda,tocando tambor ,recitando uma ladainha a noite inteira.Bebem aguardente e cerveja e seguram em energia a toada.
Fim de tarde e vem a procissão com São Brás à frente, há poucos dias a festa era para São Sebastão, é muita festa.Os homens jovens trazem o mastro trabalhado artísticamente com a intenção de criar fartura para a aldeia.O mastro é escolhido na mata pelos homens e no dia do corte da árvore as mulheres preparam a comida para serví-los .Por toda a parte é festa a alegria é contagiante,as baianas arrumadas com muita vaidade,flores e adereços nos cabelos,brincos e colares,tudo muito brilhoso.
É um povo forte e saudável que ri,canta,dança,fala alto.É um povo cheio de esperança.
São prósperos o bastante para esbanjar felicidade.Se existe crise no mundo dos ricos ela não baixou neste terreiro cheio de vida.
Na hora de trocar o mastro do ano passado pelo novo o povo se comprime e anima os homens que irão levantá-lo com a bandeira nova.O mastro içado por cordas vai subindo
Um moço de corpo quase nu,bonito,ágil e musculoso dança em frenesi rítmico em honra do santo.
Vivas e aplausos,as mulheres tocam no pau do mastro com as mãos e secretamente fazem seus pedidos de amor,dinheiro ,marido.Rezas do coração de cada um.Fazem valer a fé.
Todos ali,os poderosos locais,alguns representantes da elite do país com a atençao voltada para criar mais poder e riqueza ,artistas, celebridades ou não,artesãos,hippies,turistas de todo o Brasil e do mundo,todos ali comemorando o santo.
Na Bahia todos ficam”meu irmão”È fácil entender tudo,somos de um país rico
em patrimonio de juventude e alegria,rico pela terra que possui pronta para produzir riqueza sem derrubar florestas, sem drenar mangues sem ser pátria de traficantes e criminosos..
Seria tão bom se o governo não nos tomasse o que nos pertence.
Mas na realidade é assim,as águias comem as cobras,os cães matam os gatos,os gatos
comem os ratos e as lagartixas que parecem enfeites de parede comem as cigarras cantoras.E o diabo caça os homens.
E os homens e mulheres deste país feliz são servidos de maneira injusta,a maioria vive em estado de dependência da cesta básica e servidão,frustrados em seus pequenos sonhos,com o bem estar ao rés do chão.E dá-lhes dias de sol e chuva,e farinha e pinga e
angu.E dá-lhes banana ,peixe,caju,tá tudo aí ,Deus provê o banquete brasileiro.
È ,mas tudo é festa.Deixa pra lá esta conversa chata,é que vendo esta energia toda penso no desperdício humano,nas crianças sem escola,nos doentes a míngua,nas estradas desastrosas,no qualquer coisa caridosa. que o governo nos dá.
È mas deixa prá lá,tudo é festa....da sobrevivência dos mais fortes,e de repente em nossas festas nós somos fortes ,o tambor dos velhos bate o grito da energia.Deixa prá lá o governo do povo e não para o povo.Deixa prá lá o ideal de uma sociedade harmoniosa. e vamos fazer da festa do povo nossos momentos de reza forte para o santo não nos desamparar.E o povo diz amém e eu em mea culpa digo amém também.
A sobrevivência exige de nós tanta força que não nos resta energia para outras batalhas.
E fico aqui na janela vendo o tempo passar em seu caminho de ir e voltar.No vai e vem infinito do meu alado pensamento ou me enredo nas matas,passando pela aldeia alcançando continentes ou avanço em direção ao mar mergulhando profundezas desconhecidas misteriosas.Neste ir e vir sem fim o fôlego do meu viver,estas palavras
sem paga,meus sentimentos em seu sentido igual ao tempo de ir e voltar.
Nada se encerra quando a janela descerra um panorama novo e lá vai o Jeová com seu bumbo gigante,e lá vai o Sêo João de Antídio com seus óculos de sol e seu chapéu
protetor ,e lá vai a moça linda de vestido branco e flor no cabelo.
E bem aqui na minha frente o argentino exibe macheza com a cobra enrolada no pescoço ,depois esticada de um braço a outro Fogos espocam é festa no Quadrado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Cris, são essas coisas que fazem diferença, e vc é essa pessoa, necessária para poder fazer a diferença.
As linhas inocentes calam fundo na alma.
bjs...Vá

Unknown disse...

Cris,se todas as pessos observassem
todas as coisas boas assim como você
tenho certeza que o mundo seria bem melhor. porque você é um exemplo de vida,me sinto muito feliz de poder
desfrutar de suas palavras maravilhosas, agradeço em nome da população de Trancoso pelo cariho que
você tem pela nossa cidade.
"São pessoas como vc que nos incentiva a continuar batalhando"

lino disse...

Um excelente relato de uma festa popular. Não sabia que o seu Trancoso ficava na Bahia.