quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Serenidade onde nasce a liberdade



Nuvens ralas coando o sol da manhã.Diáfanas nuvens de gaze clareando o azul em branco. Sem formas delineadas, esparsas pinceladas de um artista solto pelo céu brincando com mágico pincel de nada fazer. Tudo amplo, aberto, imaculadamente limpo e original.
A praia deserta, a maré baixa. Caminho sem esforço pela areia lavada e dura da orla rendada de água fininha.Uso colares de sementes feito pelos índios Pataxós.Levo livros.
Livros pesam, mas fazer o quê, são meu destino e meu ofício. Leio o que me aparece, normalmente de quatro a cinco livros que vou espalhando pela casa, pelas bolsas, pela cabeça. Trouxe comigo um Tom Wolfe, "Um homem por inteiro".Um paralelepípedo de 662 páginas, lançado em 1999, semelhante a sociedade brasileira atual que com atraso se espelha nas americanices do norte. Os exageros, as esquisitices e as excentricidades de um bilionário enfrentando a falência enquanto a família,a segunda mulher e agregados consomem suas últimas forças em gastos perpétuos e estapafúrdios da vida americana,.As favelas da cidade,os astros do esporte, a fazenda de 12mil hectares só para caçar codornas. O cenário é a cidade de Atlanta na Georgia.
Vou ao mar, ao horizonte, ao castelo das crianças, a Shangri-lá , ao rumo sem rumo que me conduz a esta prosa que deito na folha do caderno preto.
De onde me vem este gosto encantado por ficar só?
Liberdade é o patrimônio que preservo , onde me reconheço forte, independente, em totalidade- Sou o siri,a lesma brilhante, o pirilampo da noite, esta mulher nua que entende de se isolar para se pertencer, se alegrar com ondas que quebram, com mergulhos e águas de curar.
É tão bom ser agora o meu destino. Ser coragem suada de tanto caminhar. Ter o ânimo nutrido pelo livro de orações que carrego na bolsa- aqui Jesus me faz companhia, meu Jesus doador de graças e amor, um profundo amor que atravessa em compaixão os tempos. Banhada em luz na decomposição do espectro solar de cor rubi e dourado sou ouro da existência abrasada em amor. A esta hora o sol já vai pelo meio do céu e as pessoas transitam molemente pela praia.O cão labrador busca o pedaço de madeira, outro, um vira lata se lança na água atrás da casca de coco. Mais abaixo crianças fazem guerra de areia e o mar engole seus castelos.
A vida passa.
O minuto se desmancha enquanto o escrevo. A paisagem é dinâmica e se transforma num quadro vivo.
O sol faz-se ardido.
Espalho livros pela areia.
O trote do cavalo manso e o homem magro com chapéu de cangaço.
O mar recua .Ondas mansas.
Vai e volta o andante cavalo branco sujo.
As frases soltas se organizam em pensamento sem pensar.
Vida mansa é simplesmente estar.
Faço parte deste mundo em que o "estar lá fora" é ser feliz "aqui dentro", vibrando por fazer parte deste cenário dos deuses. Aqui, este aqui que eu falo agora é um lugar que só a mim pertence, onde não ouço o celular tocar, um "deixa estar". O corpo se entrega, os nervos sem tensão, o músculos dormitam na camada húmida da areia quente. A vida está ligada e passando, apenas testemunho. Ouvinte do marulhar, gerando um campo magnético imaculado, alheio a estreititude do chegar humano. De olhos cerrados, tudo existe apenas em uma névoa e não distingo o que é miragem e o que me vem de memória em paisagem. Coração quieto.
Um marulhar ... coração quieto.
Nunca nada é o fim do mundo.
O mundo é eterno, nós é que somos passageiros.

sábado, 22 de novembro de 2008



O tempo é ornamento

O volume das formas verdes.É o quintal.Cipós pingentes pendurados nos galhos feito favas secas.
Terra quente que bebe em um minuto a água da chuva.Terra entumecida de milagres,a unidade verde que apresenta a criação executada por muitas das mãos de Deus.As imagens da natureza pronta,preciosa,longe da simplicidade,sofisticadíssima tecida no frescor de vários fios que se mesclam em verdes de todos os tons e profundidades .Tamanho e leveza de árvores,touceira de bambus e flores delicadas.A sequência rica em ângulos,vãos pausas por onde se espia o céu e as roupas no varal.As vastas perspectivas de um olho que a tudo vê e oferece beleza por todos os lados.A palmeira vertical,a afetuosidade das folhas de veludo,maciez das pétalas liláses das flores cálices da trepadeira enérgica enroscada pelos mourões da cerca de pau.
Admirar o nada igual,as reentrâncias e vazios,a grandeza contida no que não há-o céu para perder de vista teto aberto,desvão para se apreciar as formas limpas,o voo perfeito de bichos leves,emplumados que habitam o azul.A coreografia hilária dos saguis espirituosos e ágeis.
O tempo sem linha passa como um sonho permeável de nuvens assopradas em movimento .
O tempo acontece-me e eu não o percebo.Desde já sinto-me longeva,escolho o tempo que eu quiser e ouço meus suspiros adolescentes ecoando agora nos meus sonhos .
É como se o tempo pertencesse a mim e não a Alice no país das maravilhas,sem o coelho,o relógio e o calendário.
A vagueza que se me apodera é libertária longe do tempo das exigências febris que me obstinam no dia a dia comum da vida seca,ralada em velocidade.
De tempos em tempos paro para cismar o tempo.,o espaço que percorro.
Tempo é a matéria com que se faz o destino que escrevo.Nova e antiga a um só tempo.Senhora de muitas épocas especulo o mundo e com olhos de ver de novo me extasio com as recentes descobertas.
Descubro por exemplo que sempre que venho para cá no Paraíso é sempre a mesma coisa e nunca nada igual.Fica como éter na mente a sensação lúdica ,o prazer do nada a fazer.A entrega a atmosfera da liberdade natural sem fronteiras.Sem peso morto a me fustigar a coluna vertebral.
O tempo não é utilitário é ornamento.Beleza a vagar por este espaço singular em sua complexidade vital.Tempo de lirismo agudo que me toma pelo desejo de não ser,não acontecer,não ter,apenas testemunhar a beleza que me colore neste espetáculo redentor de calma viva.
Pássaros entoam cantos dispersos que saem do mistério das copas largas das árvores.Ocultos pela ramagem os cantores das manhãs e tardes compõem sinfonias de corpos ausentes.O som da mata o assovio.A natureza pronta e transformista me comove.
É sutil o tremelicar da flor miúda no vaso branco.
Recebo este presente de caminhar descalça sentindo os grãos de silício a mordiscar a pele,a textura fofa da grama fria.
Sem preocupações e com argumentos para justificar a distancia da incivilidade,tornando-me a metamorfose da aspereza dolorosa da matéria num volta à calma a face invisível do que não se captura,meu ser em essência liberto e sereno.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Amendoeira-Praia dos Coqueiros




Minha amendoeira de copa larga, a beira mar. Estendida em sombra cobre a areia e a torna como uma sala de estar.
Deste lounge particular, avisto em graus o horizonte que me abraça fartamente . Com leveza e graça em suas folhas arredondadas dispostas em cachos ela me serve fiel aos meus caprichos de viver bem feliz com sombra e água fresca.Clarice tem uma pequena cabana de folhas ali por perto e me serve abacaxi gelado descascado para comer segurando no talo.Uma delícia!- são os abacaxis de Sapirara.
Afinada com este céu indecente de tanto azul,neste dia de todos os anjos,aqui onde a natureza dança recupero a serenidade e o bom humor
O vento areja as idéias viciadas da cabeça.Aqui é meu lugar de ir passando feito folha que o vento leva.