O volume das formas verdes.É o quintal.Cipós pingentes pendurados nos galhos feito favas secas.
Terra quente que bebe em um minuto a água da chuva.Terra entumecida de milagres,a unidade verde que apresenta a criação executada por muitas das mãos de Deus.As imagens da natureza pronta,preciosa,longe da simplicidade,sofisticadíssima tecida no frescor de vários fios que se mesclam em verdes de todos os tons e profundidades .Tamanho e leveza de árvores,touceira de bambus e flores delicadas.A sequência rica em ângulos,vãos pausas por onde se espia o céu e as roupas no varal.As vastas perspectivas de um olho que a tudo vê e oferece beleza por todos os lados.A palmeira vertical,a afetuosidade das folhas de veludo,maciez das pétalas liláses das flores cálices da trepadeira enérgica enroscada pelos mourões da cerca de pau.
Admirar o nada igual,as reentrâncias e vazios,a grandeza contida no que não há-o céu para perder de vista teto aberto,desvão para se apreciar as formas limpas,o voo perfeito de bichos leves,emplumados que habitam o azul.A coreografia hilária dos saguis espirituosos e ágeis.
O tempo sem linha passa como um sonho permeável de nuvens assopradas em movimento .
O tempo acontece-me e eu não o percebo.Desde já sinto-me longeva,escolho o tempo que eu quiser e ouço meus suspiros adolescentes ecoando agora nos meus sonhos .
É como se o tempo pertencesse a mim e não a Alice no país das maravilhas,sem o coelho,o relógio e o calendário.
A vagueza que se me apodera é libertária longe do tempo das exigências febris que me obstinam no dia a dia comum da vida seca,ralada em velocidade.
De tempos em tempos paro para cismar o tempo.,o espaço que percorro.
Tempo é a matéria com que se faz o destino que escrevo.Nova e antiga a um só tempo.Senhora de muitas épocas especulo o mundo e com olhos de ver de novo me extasio com as recentes descobertas.
Descubro por exemplo que sempre que venho para cá no Paraíso é sempre a mesma coisa e nunca nada igual.Fica como éter na mente a sensação lúdica ,o prazer do nada a fazer.A entrega a atmosfera da liberdade natural sem fronteiras.Sem peso morto a me fustigar a coluna vertebral.
O tempo não é utilitário é ornamento.Beleza a vagar por este espaço singular em sua complexidade vital.Tempo de lirismo agudo que me toma pelo desejo de não ser,não acontecer,não ter,apenas testemunhar a beleza que me colore neste espetáculo redentor de calma viva.
Pássaros entoam cantos dispersos que saem do mistério das copas largas das árvores.Ocultos pela ramagem os cantores das manhãs e tardes compõem sinfonias de corpos ausentes.O som da mata o assovio.A natureza pronta e transformista me comove.
É sutil o tremelicar da flor miúda no vaso branco.
Recebo este presente de caminhar descalça sentindo os grãos de silício a mordiscar a pele,a textura fofa da grama fria.
Sem preocupações e com argumentos para justificar a distancia da incivilidade,tornando-me a metamorfose da aspereza dolorosa da matéria num volta à calma a face invisível do que não se captura,meu ser em essência liberto e sereno.
Um comentário:
Olá Cristina Siqueira, hoje ao vaguear pelo meu sitio web lembrei-me de fazer uma visita ao seu espaço, e desde já agradecer-lhe pela visita guiada e detalhada nas belas palavras que compõem os seus textos, que me fizeram viajar para Trancoso no seu imaginário admirando o maravilhoso sitio natural que de certeza é, tenho em preparação uma Volta ao Mundo no meu motorhome e nessa viagem vou escrevever as minhas memórias de viagem, só que eu não fui abençoado pela Natureza da escrita mas... com locais tão magnificos vou de certeza inspirar-me.
obrigada por nos presentear com os belos textos que compõem.
com os melhores cumprimentos
do viajante incondicional
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