segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Iansã,deusa a levantar-se em vento
Eparrei Iansã
Eparrei minha mãe
Não me canso de estar à sós comigo tomando vento.Respiro puro ar fresco.
Banho de vento.Aqui em Trancoso parece que sempre o ar condicionado está ligado.
O sol atrás das nuvens filtrado em seu excesso é calorzinho gostoso.
Tudo sol,tudo sol,tudo sou nesta performance clara que justifica minha existência.
O vento passa pelo meu corpo e se vai cíclico e contínuo levando tudo que não me pertence-
as dores,mágoas,angústias,ressentimentos,cansaço,pressa,impaciência,medos,contrariedades ,
aborrecimentos.
A terapia do vento.O vento é um possante veículo energético em movimento,arejador de ideias,ótimo dispersante de energias negativas.Potente estimulante para a fadiga crônica ,mal dos tempos.
Não tenho nada a fazer a não ser tomar vento.
O mamoeiro com as folhas arregaladas para cima.O vento cresce em vendaval,parece mês de agosto,janeiro não é mês de vento assim como este que muda as coisas de lugar e é forte.
O vento não tem caminho,venta tudo,é o movimento se fazendo de lugar.Venta tanto que as roupas secam em um minuto estendidas no varal.
O ar esta refrigerado,limpo,conservante,claro como um cristal.
O rio lá embaixo,esse sim tem caminho,segue feito esteira para o mar.
O vento é a deusa de todos os espaços,cabeleira alvoroçada,pelos arrepiados,ondas que viram vagas.E com sua força enfurecida tsunamis,macaréus,furacões,maremotos.
Um sucessivo balouçar,agora brando,carícia,deleite.Brisa.
Tudo dança no seu ciciar rasante,beijante ar fresco.
Impetuoso,rebelde o vento existe por si,não tem nascente,não foi nascido,brota do começo do nada e se apresenta com o poder de uma deusa majestosa .
Eparrei Inhansã! que comanda o invisível,a fidelidade aos próprios princípios,o poder da mudança,a leveza da pluma que voa,a rota dos pássaros,a maré mansa.
O vento é vivo e ninguém o vê.Universo tangível,toque do invisível.
Bate portas e janelas.O que não se sustenta cai.As redes balançam e rangem o som das redes.
A poeira levanta, a areia muda de lugar.
E segue o sossego das lesmas,o voo dos pássaros planando no vale.As cigarras em coro crescente anunciando a noite.
O balé das folhas à meia luz é um tango de encontros fugidios.Um roçar de verdes encantos.O rubro do hibisco dobrado.As luzes amarelas do jardim.
Iansã guerreira,deusa da vitória viva,intensa com seu colorido tonal de vermelho elétrico,coral,damasco,laranja e todas as nuances do rosa,salmão,pêssego,fucsia,rosa da cor de rosa.Todos os tons de vinho.Todas as nuances do fogo.
De natureza instável Iansã é a voz do gorjeio dos pássaros,do tinir dos metais das espadas,do fragor da tempestade,do silvo forte dos ventos sinistros que uivam nas noites tenebrosas.
Cortejo brilhante da misteriosa deusa,dona dos raios,desdobradora das velas dos navios,indicadora dos rumos sem caminho.
Em sua honra a oferenda do cobre trabalhado,dos panos de seda,o algodão puro.As comidas servidas com manga,os temperos fortes de dende e pimenta.
Senhora dos ventos ,dona de si livre,adorada na planta que a representa o flexível bambu de natureza múltipla,bela e utilitária.
Iansã domina o mistério das sombras a potência da luz.
Diversa é a luz de sua energia plástica que na inquietude apaixonada constroe uma realidade viva,uma linguagem alegórica de coisas pulsantes,emocionais.
Seus objetos sagrados falam de amor,seus versos são voluptuosos,seus encantos são naturais.A mais bela dança,os gestos mais sensuais,pulseiras que tilintam em pulsos, braços e tornozelos.
Leques,abanos,adornos exclusivos.
Olhos que a tudo vêem , sendo de um mundo invisível,desperto na intuição.
Coragem,entusiasmo,impulso e fé são qualidades do seu coração.
A mim Iansã aparece viva na natureza,semeadora de sóis na minha vida.
E me inicia verão após verão em seus símbolos vivos.
Eparrei Iansã
Eparrei
Salve Santa Bárbara
Salve
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Serenidade onde nasce a liberdade
Nuvens ralas coando o sol da manhã.Diáfanas nuvens de gaze clareando o azul em branco. Sem formas delineadas, esparsas pinceladas de um artista solto pelo céu brincando com mágico pincel de nada fazer. Tudo amplo, aberto, imaculadamente limpo e original.
A praia deserta, a maré baixa. Caminho sem esforço pela areia lavada e dura da orla rendada de água fininha.Uso colares de sementes feito pelos índios Pataxós.Levo livros.
Livros pesam, mas fazer o quê, são meu destino e meu ofício. Leio o que me aparece, normalmente de quatro a cinco livros que vou espalhando pela casa, pelas bolsas, pela cabeça. Trouxe comigo um Tom Wolfe, "Um homem por inteiro".Um paralelepípedo de 662 páginas, lançado em 1999, semelhante a sociedade brasileira atual que com atraso se espelha nas americanices do norte. Os exageros, as esquisitices e as excentricidades de um bilionário enfrentando a falência enquanto a família,a segunda mulher e agregados consomem suas últimas forças em gastos perpétuos e estapafúrdios da vida americana,.As favelas da cidade,os astros do esporte, a fazenda de 12mil hectares só para caçar codornas. O cenário é a cidade de Atlanta na Georgia.
Vou ao mar, ao horizonte, ao castelo das crianças, a Shangri-lá , ao rumo sem rumo que me conduz a esta prosa que deito na folha do caderno preto.
De onde me vem este gosto encantado por ficar só?
Liberdade é o patrimônio que preservo , onde me reconheço forte, independente, em totalidade- Sou o siri,a lesma brilhante, o pirilampo da noite, esta mulher nua que entende de se isolar para se pertencer, se alegrar com ondas que quebram, com mergulhos e águas de curar.
É tão bom ser agora o meu destino. Ser coragem suada de tanto caminhar. Ter o ânimo nutrido pelo livro de orações que carrego na bolsa- aqui Jesus me faz companhia, meu Jesus doador de graças e amor, um profundo amor que atravessa em compaixão os tempos. Banhada em luz na decomposição do espectro solar de cor rubi e dourado sou ouro da existência abrasada em amor. A esta hora o sol já vai pelo meio do céu e as pessoas transitam molemente pela praia.O cão labrador busca o pedaço de madeira, outro, um vira lata se lança na água atrás da casca de coco. Mais abaixo crianças fazem guerra de areia e o mar engole seus castelos.
A vida passa.
O minuto se desmancha enquanto o escrevo. A paisagem é dinâmica e se transforma num quadro vivo.
O sol faz-se ardido.
Espalho livros pela areia.
O trote do cavalo manso e o homem magro com chapéu de cangaço.
O mar recua .Ondas mansas.
Vai e volta o andante cavalo branco sujo.
As frases soltas se organizam em pensamento sem pensar.
Vida mansa é simplesmente estar.
Faço parte deste mundo em que o "estar lá fora" é ser feliz "aqui dentro", vibrando por fazer parte deste cenário dos deuses. Aqui, este aqui que eu falo agora é um lugar que só a mim pertence, onde não ouço o celular tocar, um "deixa estar". O corpo se entrega, os nervos sem tensão, o músculos dormitam na camada húmida da areia quente. A vida está ligada e passando, apenas testemunho. Ouvinte do marulhar, gerando um campo magnético imaculado, alheio a estreititude do chegar humano. De olhos cerrados, tudo existe apenas em uma névoa e não distingo o que é miragem e o que me vem de memória em paisagem. Coração quieto.
Um marulhar ... coração quieto.
Nunca nada é o fim do mundo.
O mundo é eterno, nós é que somos passageiros.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
sábado, 22 de novembro de 2008
O tempo é ornamento
O volume das formas verdes.É o quintal.Cipós pingentes pendurados nos galhos feito favas secas.
Terra quente que bebe em um minuto a água da chuva.Terra entumecida de milagres,a unidade verde que apresenta a criação executada por muitas das mãos de Deus.As imagens da natureza pronta,preciosa,longe da simplicidade,sofisticadíssima tecida no frescor de vários fios que se mesclam em verdes de todos os tons e profundidades .Tamanho e leveza de árvores,touceira de bambus e flores delicadas.A sequência rica em ângulos,vãos pausas por onde se espia o céu e as roupas no varal.As vastas perspectivas de um olho que a tudo vê e oferece beleza por todos os lados.A palmeira vertical,a afetuosidade das folhas de veludo,maciez das pétalas liláses das flores cálices da trepadeira enérgica enroscada pelos mourões da cerca de pau.
Admirar o nada igual,as reentrâncias e vazios,a grandeza contida no que não há-o céu para perder de vista teto aberto,desvão para se apreciar as formas limpas,o voo perfeito de bichos leves,emplumados que habitam o azul.A coreografia hilária dos saguis espirituosos e ágeis.
O tempo sem linha passa como um sonho permeável de nuvens assopradas em movimento .
O tempo acontece-me e eu não o percebo.Desde já sinto-me longeva,escolho o tempo que eu quiser e ouço meus suspiros adolescentes ecoando agora nos meus sonhos .
É como se o tempo pertencesse a mim e não a Alice no país das maravilhas,sem o coelho,o relógio e o calendário.
A vagueza que se me apodera é libertária longe do tempo das exigências febris que me obstinam no dia a dia comum da vida seca,ralada em velocidade.
De tempos em tempos paro para cismar o tempo.,o espaço que percorro.
Tempo é a matéria com que se faz o destino que escrevo.Nova e antiga a um só tempo.Senhora de muitas épocas especulo o mundo e com olhos de ver de novo me extasio com as recentes descobertas.
Descubro por exemplo que sempre que venho para cá no Paraíso é sempre a mesma coisa e nunca nada igual.Fica como éter na mente a sensação lúdica ,o prazer do nada a fazer.A entrega a atmosfera da liberdade natural sem fronteiras.Sem peso morto a me fustigar a coluna vertebral.
O tempo não é utilitário é ornamento.Beleza a vagar por este espaço singular em sua complexidade vital.Tempo de lirismo agudo que me toma pelo desejo de não ser,não acontecer,não ter,apenas testemunhar a beleza que me colore neste espetáculo redentor de calma viva.
Pássaros entoam cantos dispersos que saem do mistério das copas largas das árvores.Ocultos pela ramagem os cantores das manhãs e tardes compõem sinfonias de corpos ausentes.O som da mata o assovio.A natureza pronta e transformista me comove.
É sutil o tremelicar da flor miúda no vaso branco.
Recebo este presente de caminhar descalça sentindo os grãos de silício a mordiscar a pele,a textura fofa da grama fria.
Sem preocupações e com argumentos para justificar a distancia da incivilidade,tornando-me a metamorfose da aspereza dolorosa da matéria num volta à calma a face invisível do que não se captura,meu ser em essência liberto e sereno.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Amendoeira-Praia dos Coqueiros
Minha amendoeira de copa larga, a beira mar. Estendida em sombra cobre a areia e a torna como uma sala de estar.
Deste lounge particular, avisto em graus o horizonte que me abraça fartamente . Com leveza e graça em suas folhas arredondadas dispostas em cachos ela me serve fiel aos meus caprichos de viver bem feliz com sombra e água fresca.Clarice tem uma pequena cabana de folhas ali por perto e me serve abacaxi gelado descascado para comer segurando no talo.Uma delícia!- são os abacaxis de Sapirara.
Afinada com este céu indecente de tanto azul,neste dia de todos os anjos,aqui onde a natureza dança recupero a serenidade e o bom humor
O vento areja as idéias viciadas da cabeça.Aqui é meu lugar de ir passando feito folha que o vento leva.
sábado, 1 de novembro de 2008
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
"Amicis serum novaris"
"Amigos das coisas novas"
Todos os dias estão inteiros para serem vividos
Atração de vidas paralelas
a espera de conexão
Rir para sair bem na foto
Na superfície está o pecado do excesso de prazer
A vida uma festa de dança
Amigos a segura aliança
de palha,de ouro,de prata
de intimidade confiante
Tal é o grau de liberdade
Tal é o´fogo do viver
Outeiro das Brisas
Quero acordar com este mundo fresco e vivo todos os dias
sendo o cenário desta obra em que me fundo com a natureza,
olhando-a de dentro de si mesma,
emprestando-lhe meus olhos
para que com esta escolhida cegueira
eu possa vê-la com o meu coração
e sentí-la viva
em toda sua textura,
sua vibração, seu tom.
domingo, 19 de outubro de 2008
Rio Trancoso visto da Casa do Rio
Daqui de cima
parece que o rio parou
que sua curva é um lago
corredeira corre mansa
líquido espelho
toda hora é outra hora
toda água é outra água
e tudo quieto
movendo por dentro
passando por baixo
um sossego
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Harmonia é o estado feliz da alma
Barraca Pé na Praia
Presente é estar aqui.Ainda é cedo.O mar está crespo e arrebenta forte.Risco no céu do avião que passou.
Rastros de felicidade que deixo aqui e ali por onde passo.O lume da candeia,sempre acesa,sempre quente é como me sinto neste estar de paz.
O vento forte areja a alma e vivifica o corpo.Contraste do sol quente com o vento frio,o estar e o movimento.Os voleios das mechas pesadas dos cabelos,a mão viva nas letras redondas,a escrita que se recomeça como os dias que a cada dia surgem novos.É tudo prata neste perder de vista.É tudo ouro,canga amarela,banana da terra,cuíca no som de jazz.É tudo um ponto.É tudo pronto.O nenem de olhos espertos no carrinho de bebê.
O banco de areia,o banco de pau,a mesa de madeira.Formigas diligentes com o pequeno corpo acelerado.
Nada é previsível nem tão importante quando se olha o mar.A criação não é previsível.Deus não é previsível,a não previsibilidade harmônica.O ser sendo,o é sem se importar se é.
Numa plaquinha de madeira azul escrito em branco:"Fumante segure as pontas".
Sigo as pegadas que o mar apaga,piso na areia transformista.O agora é esta hora bendita de outro mundo e tudo que preciso cabe na sacola transparente e o amor é fazer rolar o corpo na esteira do chão.
Quanto desperdício de tempo com coisas de acumular.Espreguiçadeira e almofadas.Caetano canta musa híbrida.O pintor busca a luz ideal,o tom ,a cor;o escultor a forma,a força, a proporção;
o fotógrafo o ãngulo,o foco,o enquadramento,e o poeta trabalha com o que tem,na busca por êle mesmo encontra palavras,filosofias,atmosferas,estados de espírito.Faz a história e a transcreve enquanto tudo acontece quente.Atos crus que viram fatos.Ele tem ao que se ater
quando a alma voa.Poemas carregados de vento e velocidade por vezes uma pasmaceira.
Sou esta onda que bate no chão e se acaba.
A cançoneta italiana linda.
Passa o homem com chapéu de cangaço.
Tão Brasil,tão íntimo da minha alma,a canção chorosa e o galope ligeiro.A sensação deste só onde ninguém me pega.
O bebê aconchegado a mãe,enrolado no sling azul sorri,sorri muito e olha para o céu encantado com as ramagens que balançam,a surpresa das borboletas,o rasante dos pássaros.
O bebê fala a linguagem dos anjos,um mantra atrapalhado e divertido.
Harmonia é o estado feliz da alma.
Assinar:
Postagens (Atom)